sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Profissões em OFF - A marginalização do trabalho na web

Seguindo com as colaborações da minha amiga e jornalista (em formação) Luana de Oliveira, segue mais um texto, escrito por ela. Vale a pena investir alguns minutos na leitura.

Profissões em OFF

Ser coveiro certamente não esta entre o emprego dos sonhos. A profissão é muito discriminada, pois eles lidam todos os dias com um dos maiores mistérios da ciência humana: a morte. Poucas pessoas dão o valor que eles merecem. A sociedade está acostumada a valorizar somente os altos cargos.
Essa é uma realidade existente não só no meio social como também está presente no mundo virtual. Depoimentos de luta e casos que demonstram claramente o preconceito com esses profissionais são facilmente encontrados.
No texto publicado no site reconquista.pt encontramos a seguinte frase: “Ser coveiro é uma profissão de provocar arrepios a muitos.” Quando falamos em coveiro, logo associamos a profissão ao cemitério. Na visão de diversas pessoas esse é um lugar de assombração e coisas tenebrosas. O medo o preconceito e a superstição fazem as pessoas esquecerem que esses profissionais são pessoas comuns. Eles têm famílias, direitos e deveres como qualquer outro cidadão.
Ighor Astaroth criou O Blog do Coveiro (2). Nesse espaço virtual Ighor cria uma imagem irreal dos coveiros. Com cores fortes e figuras assustadoras ele procura passar às pessoas, que acessam seu blog, uma visão ruim desses trabalhadores. Logo no início o autor da destaque ao seguinte texto: "Das trevas eu vim e para as trevas hei de levá-lo, e você que está me vendo agora muito cuidado, pois eu poderei fazer parte dos seus piores e mais macabros pesadelos!... Você pode considerar-se uma pessoa corajosa, pois acabou de adentrar no submundo sombrio e assustador de um ser tétrico e sedento por sangue humano... você está
nos domínios do Coveiro. Cuidado, pois enquanto viaja no Blog algo pode estar á espreita bem atrás de você!”.
Publicações como essas fazem com que a sociedade firme ainda mais a opinião formada em relação aos que trabalham nessa área. A insegurança e a incerteza irão predominar na cabeça da sociedade e o preconceito mais uma vez vai falar mais alto.
No site yaohoo.com uma garota lança a pergunta e instiga pessoas a refletirem sobre o assunto “Um sorriso faz toda a diferença no atendimento a um cliente?”. Porém ao anunciar a questão ela faz uma observação: “Ps. Ficam excluídos desta obrigação coveiros, carcereiros e proctologistas”.  
Vários comentários enalteceram a página da internet. Alguns acharam graça e debocharam da profissão. Alegaram que seria estranho um coveiro dar risadas enquanto enterravam uma pessoa. Entretanto, esse argumento não justifica o fato de excluírem essas profissões de lista alguma. Eles são trabalhadores como qualquer outro, com o dever de tratar as demais pessoas como educação e respeito. É importante que eles possam sorrir.
Além disso, muito mais do que cavar e montar jazigos, enterrar e exumar corpos os coveiros são os responsáveis pela preservação e limpeza dos cemitérios. Tudo para as pessoas se sentirem bem quando forem visitar o lugar onde deixaram seus entes queridos.
Excluídos pela sociedade e esquecidos pelos órgãos públicos. Essa é a real situação das pessoas que atuam nessa área. Uma matéria, realizada em especial para o dia de finados, veiculada no site tvverdesmares.com. (4), relata como é a vida desses profissionais. “Neste dia de finados, vamos falar de uma profissão que exige preparo físico e acima de tudo, coragem! É uma jornada dura, dez horas de trabalho por dia, seis vezes por semana. Um salário, não muito atrativo, menos de R$ 500,00. No dicionário, a palavra coveiro significa: Indivíduo que abre cova no cemitério; pessoa que estimula ou contribui para o fim de alguma coisa; indivíduo ruim, cruel. Mas não é bem assim não. Realmente o profissional abre covas no
cemitério, mas também tem outras atribuições. Na maioria das vezes é uma pessoa boa, simples, e o mais importante, que gosta do que faz”.
Apesar de todas as dificuldades encontradas, esses profissionais realmente gostam do trabalho que exercem. Exemplos de superação e paixão serviço, são os de Mauro e Antonio, como mostra a matéria publicada no site dailychapter7.wordpress.com. (5) São situações e diferentes, mas que levam ao mesmo destino: ser coveiro.
“Mauro da Conceição tem 40 anos e há três se dedica à profissão. Quando era criança, ele tinha o hábito de brincar nos arredores do cemitério da cidade onde nasceu. Perambulando por lá, era comum presenciar exumações e enterros, então nunca teve problemas em lidar com esse tipo de trabalho quando apareceu a oportunidade. Em 2003 prestou concurso para o cargo e passou, aí começou uma nova vida. Na carteira de trabalho a profissão de coveiro acaba causando estranheza nas pessoas. Segundo ele, muita gente olha com cara de assustado e é normal ficarem perguntando se não tenho medo.
Aos 49 anos de idade, Antonio Ferreira Martins, decidiu assumir o desafio da nova profissão. Hoje, após quatro anos de trabalhos como coveiro, Antonio relembra os fatos que enfrentou no início dessa caminhada. No começo, quando ele chegava do trabalho a esposa o fazia tirar toda a roupa antes de entrar em casa. A escolha da profissão causou certo desconforto na família. Segundo ele ,hoje ela já se acostumou, até ajuda no cemitério lavando alguns túmulos.
Antes de prestar concurso, Antonio era tratorista e hoje diz que provavelmente irá se aposentar na profissão. Quando era mais novo, ele nem queria saber de chegar perto de um cemitério, hoje é o lugar onde passa a maior parte do seu dia. Para ele a única coisa ruim é enterrar criança e jovem. Quando acontece, não tem como eles não se comoverem”.
Além de aprender a suportar o preconceito, a profissão exige trabalhar o emocional. Lidar com a dor, com a perda e com as consequencias que a morte traz, afeta o psicológico desses profissionais.

Por: Luana Oliveira

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