quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Guardiões da morte - Um dia você vai precisar dele.

Esse post foi uma colaboração de uma colega, estudante de jornalismo, vale a pena ler e comentar.

Guardiões da morte

Ser coveiro certamente não esta entre o emprego dos sonhos. A profissão é muito discriminada, pois eles lidam todos os dias com um dos maiores mistérios da ciência humana: a morte. Poucas pessoas dão o valor que eles merecem. A sociedade está acostumada a valorizar os cargos altos. José Carlos de Oliveira Filho é coveiro há pouco mais de dois anos e já sentiu na pele o preconceito das pessoas com essa função. “O impacto maior foi no início. Eu chegava no comércio ou no banco para abrir uma conta e ao saberem minha profissão as pessoas se espantavam. Então, percebi que, de fato, existe certa discriminação e isso me deixava constrangido”, enfatiza. 
Fatos como esses são encontrados frequentemente na sociedade atual. A balconista Camila Fernandes Américo relatou que a profissão virou piada no estabelecimento onde trabalha após o atendimento a um cliente que era coveiro. “Ele entrou na loja e foi atendido normalmente, mas na hora de abrir o crediário as meninas se assustaram quando perguntaram seu cargo. Depois que ele saiu, o assunto foi muito comentado”, diz Camila.
Teresinha Aparecida Fernandes Américo trabalha no comércio há 14 anos e não se recorda em presenciar algum fato semelhante. Apesar de admirar a profissão, concorda que a sociedade trata esses trabalhadores com certo receio. “Não é qualquer um que assume esse desafio. Nem todo mundo consegue se adaptar. O fato de eles trabalharem em um cemitério surpreende muita gente”, destaca Teresinha. Segundo Oliveira, o preconceito das pessoas existe devido à falta de conhecimento, da própria cultura e criação dos indivíduos. “Com o passar do tempo, vamos aprendendo a lidar com a situação. Passei a usar outro termo, ao invés de coveiro, digo que sou servidor público. Isso diminui o impacto das pessoas”. Ele tem esperanças de que essa visão mude com o passar do tempo, através da divulgação realizada pelos profissionais de comunicação, ao mostrar a verdadeira vida do coveiro.
A ideia de pertencer a um órgão público e a vontade de seguir o mesmo caminho do pai e do irmão fizeram com que José abrisse mão dos 12 anos de serviços em uma empresa de cerâmica, e prestasse o concurso público realizado em 2008. Técnico em administração, vigilância sanitária e segurança pública, trabalhou nos últimos anos na área de qualidade da empresa. Quando passou no concurso, pediu demissão para seguir o novo rumo, mas foi surpreendido com um “não” como resposta. Então, trabalhou por aproximadamente um ano conciliando os dois empregos, até não aguentar a carregada carga horária e deixar a empresa para experimentar esse caminho. “Nessa profissão, nos encontramos em um momento em que não há mais nada a fazer pelas pessoas que partiram. A não ser, realizar bem o serviço para confortar a família”, explica José. 
Desde quando assumiu o cargo de coveiro, ele trabalha no cemitério Horto da Saudade, no bairro Monte Castelo, em Tubarão. Rodeado por uma vasta vegetação, o lugar tem aspecto de parque. Em alguns finais de semana, pessoas buscam o local para lazer. “Muitos nos procuram e perguntam se podem fazer um piquenique. Tem também as crianças da creche que vêm aqui visitar. Nós só orientamos a manter o local sempre limpo. Não é porque é público que pode virar bagunça”, enfatiza. 
Para José, o termo coveiro é apenas um complemento, pois além de cavar e montar jazigos, sepultar e exumar corpos, eles são os responsáveis por manter o local sempre limpo e organizado. Tudo para que as pessoas se sintam bem, quando visitarem o lugar onde deixaram seus entes queridos.

Por: Luana de Oliveira

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