sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Profissão que ensina a viver

Este post é a continuação do anterior mas confesso que gostei ainda mais desta parte. vale a pena ler e comentar. Mais uma vez agradeço a esta jornalista em formação que, com certeza terá um grande futuro.



Profissão que ensina a viver

Preconceito. Medo. Superstição. São palavras que descrevem a expressão no rosto de muitas pessoas quando o assunto é a profissão de coveiro. O fato de estar lidando com a morte diariamente e a falta de conhecimento em relação à vida desses profissionais fazem com que as pessoas, de certa forma, os excluam do meio social. Porém, para José Carlos de Oliveira Filho, essa profissão permite fazer uma reflexão sobre a vida. “Tudo é um aprendizado. Quando recolhemos os restos mortais de quem quer que seja, a gente começa a fazer uma análise de que é besteira, é uma grande perda de tempo as pessoas viverem mal umas com a outras, não se dar com os vizinhos, ser orgulhoso, porque todos têm o mesmo final, todos
se tornam pó. Em torno de 30 anos, os ossos começam a se deteriorar”, explica. 
Os humanos são os únicos seres vivos que têm consciência da morte e não conseguem aceitar o fato. No tempo em que trabalha no cemitério, José já presenciou inúmeras cenas de famílias inconsoladas, que vão frequentemente ao local, colocam flores no jazigo e acendem várias velas. Para ele, esse ato é um desencargo de consciência, pois carregam a culpa de não ter feito o que deveria enquanto a pessoa estava viva. “Eu costumo falar para aqueles que estão ao meu redor: se quiser fazer alguma coisa por alguém, faça enquanto ela vive, dê flores
enquanto ela está viva. Depois não adianta fazer festa em sua memória porque ela não vai te ouvir. Ela já partiu”, alerta. 
Um exemplo, citado por Oliveira, demonstra bem essa indagação. O caso é de uma adolescente de 17 anos que faleceu vítima do vírus HIV, adquirido através do ventre de sua mãe. Inconsolados, seus pais se dirigiram ao coveiro e disseram para que ele cuidasse bem de sua filha, uma menina pura. José retrucou alegando que esse era o papel deles e deveriam cuidar da garota enquanto estava viva. Segundo ele, casos como esse acontecem  frequentemente. Muitos pais se deslocam, às vezes a pé, querendo estar todos os dias no cemitério para compensar esse erro. 
Além de aprender a suportar o preconceito, a profissão exige trabalhar o emocional. Lidar com a dor, com a perda e com as consequencias que a morte traz, afeta o psicológico desses profissionais. Para José, o óbito de crianças e adolescentes são os casos que mais o abalam. São histórias de vidas interrompidas de forma drástica, como é o caso de um bebê de apenas três meses do qual o próprio José realizou o sepultamento. “O bebê já tinha sofrido cinco cirurgias no coração e, antes de enterrar, a mãe queria abrir o caixãozinho para ver a criança. Eu até orientei que não, que era melhor guardar a imagem dele vivo. Com a insistência eu abri e pude ver. O aspecto dele era de quem estava apenas dormindo. Parecia um anjinho. Isso realmente mexeu comigo”, relata. 
Esse e outros casos são conseqüências da vida para as quais Oliveira não procura explicação lógica. “Contra a força não há resistência e com a força da natureza não adianta lutar. Isso vai acontecer. Só que a gente não quer que seja com uma criança ou um jovem, que são mortos inocentes. Isso nos abala. Independente se eles eram marginais, drogados, prostitutas, como a sociedade os classificam, eu olho como um ser humano. Não é porque talvez tinham esses
defeitos que eles têm devem ser descartados como seres humanos”, sublinha.

Por: Luana de Oliveira.

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