terça-feira, 19 de outubro de 2010

Os limites de um jornalista

Temos mais uma contribuição da minha colega, Luana Oliveira, acadêmica de jornalismo. Não resta dúvidas que esta menina tem futuro.

Os limites de um jornalista

Estar no auge da fama e ser reconhecido mundialmente, através do trabalho exercido, são sonhos que instigam qualquer profissional. A luta constante em busca do sucesso faz com que muitas pessoas excedam os próprios limites. É importante aprenderem a controlar seus estímulos. Ultrapassar as barreiras do perigo é inviável em diversas situações. 
Ser jornalista exige coragem e muita dedicação. A profissão é pressionada pela sociedade e vive em um mundo irreal (não está ao seu alcance). O grande papel desses profissionais é informar a população sobre o que acontece em sua volta, eles lutam diariamente pela busca de precisão. Muitos arriscam a própria vida à procura de grandes reportagens para atingir o sucesso. Mas até que ponto essa obsessão pode chegar?
O filme “Acima de Qualquer Suspeita”, de Peter Hyams, conta a história do jornalista C. J. Nicholas. Ele tenta conseguir a história da sua vida para conquistar o Prêmio Pulitzer, ao assumir a culpa de um homicídio que não cometeu. O objetivo é testar o sistema judicial e denunciar Mark Hunter, um promotor do Ministério Público que tem estado sobre a sua mira por suposta manipulação de provas. Nicholas tenta expor os perigos e ambiguidades das provas circunstanciais, mantendo sempre a condição imposta de “dúvida razoável”, em que todo o indivíduo é inocente até provar o contrário. Tudo parecia correr bem até a única testemunha que o poderia dispensar de todas as acusações é morta. Sem ter como provar a sua inocência o jornalista e considerado culpado pelo assassinato de uma jovem.
Após passar dias na cadeia, vivendo como qualquer outro carcerário, a verdade sobre Mark Hunter, o promotor corrupto, é descoberta e C. J. é libertado para desfrutar os seus momentos de glória. Porém, os dias de herói não duram muito tempo. 
No passado Nicholas ficou conhecido depois da transmissão de uma reportagem, realizada por ele, onde mostra o depoimento de uma garota que viveu na amargura e solidão, após seus pais a expulsarem de casa pela gravidez indesejada. Na matéria, o jornalista dá destaque à morte da jovem, alguns dias depois de conceder a entrevista, por overdose. Seu trabalho ficou conhecido devido a essa grande fatalidade.
Bella, a namorada que o ajudou a sair da cadeia, descobriu que ele, na época, inventou a morte da garota que, indignada com a mentira em seu próprio nome, estava ameaçando o jornalista. Com medo de perder toda a credibilidade que havia ganhado, Nicholas cometeu o assassinato. Através dessa descoberta, o mistério é desvendado e C. J. volta a cadeia, perdendo todas as conquistas como jornalista. 
No filme, podemos analisar o caso de C.J. Nicholas em dois pontos: um positivo e outro negativo.
O promotor Mark Hunter, em seus casos do tribunal, implantava provas de DNA que incriminava inocentes. A ousadia do jornalista, em organizar toda a estratégia para poder denunciar essa manipulação, foi um ato que livrou da cadeia muitas pessoas presas injustamente, além de pôr atrás das grades o verdadeiro vilão. 
Chegar ao fim de uma reportagem com êxito é uma honra para qualquer jornalista. Mas arriscar a própria vida em função dessa conquista é ir longe demais. Fora isso, C. J. violou a lei por duas vezes: transmitiu notícias falsas e cometeu homicídio.
Essa estória é apenas uma ficção, mas na vida real podemos encontrar casos semelhantes. Profissionais que fazem o que for preciso, até mesmo violar as leis, para concluir uma matéria e chegar ao topo do sucesso. 
Podemos citar como exemplo, o caso do jornalista Fred Mendes, como mostra o texto extraído do site www.blog.pop.com.br. Ele foi preso do dia 24/06/2010, em Montes Claros (Minas Gerais), suspeito de participar de um esquema de troca de pornografia infantil pela internet. A Polícia Federal encontrou no computador do jornalista fotografias que continham crianças fazendo sexo com adultos, o que é considerado crime de pedofilia. Fred Mendes já tinha feito uma reportagem anteriormente sobre pedofilia e estava trabalhando na segunda parte do assunto investigativo que iria retratar o comportamento de um pedófilo. Para isso, naturalmente, o rapaz usou de artifícios para fisgar os possíveis criminosos. Ele teria utilizado e-mails com pseudônimos diferentes para a troca do material e manutenção de sua rede de
contatos. Todo o material serviria de dados para a produção de uma matéria que seria publicada pela segunda vez na Revista TEMPO.
Nesse mesmo contexto, encontramos o caso de jornalista Laurent Richard, chefe de redação do programa de TV “Les Infiltrés” do canal estatal France 2. O jornalista se infiltrou na rede mundial de aliciamento de menores e compartilhou imagens de caráter pornográfico, o que resultou na denúncia de 22 pessoas envolvidas com o crime de pedofilia. Laurent usou uma câmera escondida e em salas de bate-papo na internet fingiu ser “Jéssica”, uma garota de 12 anos. A reportagem demorou um ano para ser feita, e Laurent também fingiu ser pedófilo
para entrar em contato com redes que trocam imagens de pornografia infantil.
O jornalista foi mais além e, se fazendo passar por pedófilo, conseguiu se inscrever em um site sigiloso de uma rede mundial de pedofilia, depois de meses de insistência e de adquirir a confiança dos mentores do endereço. Embora a imprensa mundial tenha criticado a postura do jornalista por ter denunciado as fontes, o trabalho de Laurent revela que no jornalismo investigativo não há mesmo caminhos sinalizados nem mesmo limites.
Ao contrario desses aventureiros, Ricardo Kotscho publicou em seu livro “A prática da Reportagem”, de 1995, que existem limites para uma investigação. Mesmo que o acesso seja permitido, muitas vezes não vale a pena correr o risco. Segundo Kotscho o jornal não precisa de heróis, mas de reportagens. E cada um tem que conhecer seus próprios limites.
A jornalista Thais Itaqui, em uma entrevista concedida à acadêmicos do curso de comunicação social,publicada no site www.online.unisanta.br, falou sobre os limites da profissão e a diferença que existe entre jornalismo investigativo e um detetive ou policial.Ela cita como exemplo um jornalista que compre drogas para mostrar o traficante vendendo. Segundo ela, neste caso, o profissional falta com a ética e contribui com o crime. Além disso, se submetendo a esse ato, o jornalista corre inúmeros riscos. Diferente dos policiais, que tem todo o suporte técnico e segurança, o jornalista não.

Por: Luana Oliveira

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